UM PAÍS QUE SANGRA

UM PAÍS QUE SANGRA
O Brasil sangra como sangra uma ferida mal curada. Caído,
ferido quase de morte, sangra.
Nosso
outrora tão lindo Brasil, de verdes matas, rios pujantes, alvas praias,
cascatas caudalosas, agora sangra.
Esse
Brasil que em tempos tão próximos de ontem sendo a 6ª economia mundial, agora
sangra.
O
Brasil que bem ali atrás saía garboso do mapa da fome, agora sangra.
Sangra
o Brasil que levava o Luz para todos, cisternas para o nordeste, que promovia a
transposição do Rio São Francisco, o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o
avião para os pobres as três refeições por dia...
Agora a
pátria sangra.
Parte
de uma nação assiste estupefato, outra parte chicotear com violência sem limite,
do Oiapoque ao Chuí, um Brasil cada dia mais combalido amargo e em metamorfose.
Atravessa o Brasil, um mar revolto em um barco frágil, leme avariado e com uma
tripulação faminta, o outro lado parece difícil de alcançar. Tem logo ali à
frente da proa, um horizonte azul, sol límpido e mar calmo. Mas a tempestade é
avassaladora e machuca a ferida que sangra mais a cada dia.
O Brasil sangra quando seu povo vai para uma fila em busca de ossos, quando seus povos originários são abertamente ameaçados de extinção, quando o direito a um leito de hospital lhes é subtraído por quem pode mais, quando quem menos tem, passa a ter mais do menos. Isso sangra.
Imagem:Lula Marques
Sangra
o país onde a fome é escamoteada e o fuzil aclamado. Onde a morte de seu povo é
desdenhada, onde a compra de uma vacina que salvaria milhões, é usada para
obtenção de propinas. Sangra um povo, sangra um filho que vê seus pais
desaparecerem de uma doença que tem vacina.
Um país
sangra por ignorância, por ódio e por maldade, sangramento promovido por quem
deveria curar as feridas. Sangramos.
Até
quando?
Liberdade, não nos deixe. Lutaremos por ti, mesmo sangrando.
Não
haveremos de nos envergar ante os ataques intermitentes do opressor. Haveremos
sim de retomarmos o folego, abastecer os alforges com a coragem e partir para a
caminhada em busca da cura para nossas feridas.
Chegará
um tempo onde não sangraremos mais e todas as liberdades serão por direito
nossas companheiras inseparáveis. Nosso arbítrio será nosso escudo
intransponível, onde feridas não mais serão abertas.
Que
sejamos hoje a história gloriosa do amanhã, em que nossa prole contará e
cantará em verso e prosa o quão fomos valentes e determinados para que a tão
sonhada liberdade, não fosse apenas uma utopia, mas que fosse incorporada em
nossas mentes.
Vamos
parar de sangrar.
Há
cinco anos atrás, 31 Ago 2016, o ator José de Abreu Tuitava.
“O
povo brasileiro vai sentir na pele o que é um governo feito para os ricos. Já
se esqueceram como era, mas o prato vazio o lembrará. Pena”.
Infelizmente
o prato vazio chegou. É cruel e como toda crueldade, é triste e
indiscutivelmente sórdido em um país onde se joga mais de 40 mil toneladas de
alimentos por dia.
Haveremos
de triunfar e sem feridas. Acreditemos que uma luz forte, promissora e
brilhante como uma estrela, surgirá no horizonte e trará de novo a Cura para
nossas feridas.
Um
povo que já foi feliz, um dos mais felizes do mundo, não mais sangrará.
Seremos
Felizes de novo.
Lembremos
apenas que não se cura graves feridas sem a busca de um bom remédio. Pode até
ser amargo para alguns, mas no fim, o que importa mesmo é a cura que todos
terão.
Que
venha a Cura.
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O povo brasileiro saberá fazer o sangramento destas feridas . A Cyra está próxima de chegar
O povo brasileiro saberá fazer parar o sangramento destas feridas . A Cura está próxima de chegar .
Querido Artêmis, seu texto é rico, fiel e mortalmente poético como o foram os textos de García Lorca, Pablo Neruda e Victor Jara! Sim, sangrarmos. O remédio, por amargo que seja, há-de vir. Forte, fraterno abraço.
Não é simplesmente "li verdades" É a verdade cruel
Belíssimo texto. Parabéns, Artemis. Haveremos de ser felizes de novo. A esperança, a solidariedade, o respeito ao outro e ao meio ambiente, enfim o humanismo, são as nossas armas e a nossa bússola.